28 de fevereiro de 2010

efémero

Madrid (Outubro 2008)

Madrid (Fevereiro 2010)

A primeira vez que vi este graffiti lembrei-me das naturezas mortas do período barroco, com caveira e laranja a meio descascar - vanitas vanitatum omnia vanitas - representação simbólica da futilidade do mundo material face à certeza da morte. Passados dois anos, voltei a encontrar o mesmo desenho, agora mais estilizado, noutra zona de Madrid. Um e outro já foram apagados. A vida é efémera.

22 de fevereiro de 2010

poetas malditos

Madrid (Janeiro, 2010)

(...)
And the raven, never flitting, still is sitting, still is sitting
On the pallid bust of Pallas just above my chamber door;
And his eyes have all the seeming of a demon's that is dreaming,
And the lamp-light o'er him streaming throws his shadow on the floor;
And my soul from out that shadow that lies floating on the floor
Shall be lifted - nevermore!

The Raven, Edgar Allan Poe

18 de fevereiro de 2010

anjo ou demónio?

















Madrid (Janeiro, 2010)

Anjo és. Mas que anjo és tu?
Em tua frente anuviada
Não vejo a c'roa nevada
Das alvas rosas do céu.
Em teu seio ardente e nu
Não vejo ondear o véu
Com que o sôfrego pudor
Vela os mistérios de amor.
Teus olhos têm negra a cor,
Cor de noite sem estrela;
A chama é vivaz e é bela,
Mas luz não tem. - Que anjo és tu?
Em nome de quem vieste?
Paz ou guerra me trouxeste
De Jeová ou Belzebu?

Excerto de Anjo és, Almeida Garrett

17 de fevereiro de 2010

hombres grises

Madrid (Março, 2009)

"Duas coisas só me deu o Destino: uns livros de contabilidade e o dom de sonhar."

Livro do Desassossego, Bernardo Soares (Fernando Pessoa)

16 de fevereiro de 2010

poema

















San Francisco (Maio, 2009)

"Poema é toda a página aberta diante de mim, caligrafada de esperança e de calma."

Miguel Torga, Portugal

15 de fevereiro de 2010

nós que passamos apressados

Apagaram tudo
Pintaram tudo de cinza
A palavra no muro
Ficou coberta de tinta

Apagaram tudo
Pintaram tudo de cinza
Só ficou no muro
Tristeza e tinta fresca

Nós que passamos apressados
Pelas ruas da cidade
Merecemos ler as letras
E as palavras de Gentileza

(...)

Gentileza, Marisa Monte

14 de fevereiro de 2010

prólogo

Lisboa (Dezembro, 2008)

”Comme la pierre est dure! Comme les instruments sont rudimentaires! Qu’importe! Il ne s’agit plus de jouer mais de maîtriser la frénésie de l’inconscient. Ces signes succincts ne sont rien moins que l’origine de l’écriture, ces animaux, ces monstres, ces démons, ces héros, ces dieux phalliques, rien moins que les éléments de la mythologie. S’élever à la poésie ou s’engouffrer dans la trivialité n’a plus de sens en cette région où les lois de la gravitation ne sont plus en vigueur.”

Brassaï, “Du mur des cavernes au mur d’usine” (Minotaure, 1933)